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19 julho 2014

Sobre conselhos e abraços


Na última madrugada de segunda para terça eu estava acompanhada de uma amiga que tinha vindo até minha casa conversar, pedir conselhos, desabafar, enfim, essas coisas que amigas fazem. Lá pras tantas, eu, que já tinha dado todos os conselhos possíveis e impossíveis pra ela, resolvi ligar a tv pra dar uma descontraída no clima. Estava passando o programa do Danilo Gentili e eu tive a feliz surpresa em ver que Carpinejar era o entrevistado da noite. Fiquei dividindo meu foco entre a tv e a minha amiga até que um diálogo me roubou toda a atenção: "eu vejo que você dá conselhos, palpites sentimentais com muita segurança, até fala sobre o assunto com muita segurança, eu posso supor que sua vida sentimental é bem tranquila?" perguntou o apresentador. "Não! Não, como que eu ia dar conselhos se eu não sofro dilemas, tormentos, abismos, infernos...?" rebateu o entrevistado.

Eu entendi o que o Danilo quis dizer. Ele partiu do pressuposto que Carpinejar, por ter tantos conselhos pra dar sobre relacionamentos, deveria usá-los em benefício próprio, tendo assim relações tranquilas. O entrevistador presumiu que ele já tinha todas as respostas para as próprias perguntas. Mas teve um ponto que o que o humorista esqueceu de considerar: para sabermos muito sobre um assunto, qualquer que seja, não precisamos ter todas as respostas; temos que ter todas as perguntas e, a partir disso, ir em busca das soluções. 

A entrevista acabou e minha amiga saiu daqui munida de conselhos que provavelmente não usará, assim como aquela colega que aparece no post em que eu digo que relacionamentos são a cópia da cópia, reforçando a minha teoria, pois os dois casos são parecidíssimos. E isso me fez pensar sobre outra coisa. Talvez as pessoas não venham até nós pedindo conselhos para recebê-los e segui-los, de fato. Elas querem ter a sensação de que estão sendo ouvidas, querem saber que tem alguém prestando atenção nos seus dramas e alguém que se importa o suficiente para despejar algumas palavras em forma de ajuda. Buscam conforto nas palavras amigas que, vindas em forma de conselhos, implicam numa espécie de abraço, como se a pessoa dissesse "vem cá, eu também já passei por isso". Talvez os conselhos sejam apenas a metáfora para dizer que nos importamos. Símbolos que não precisam ser necessariamente seguidos para fazerem sentido.

A questão é que os conselhos, seguidos ou não, são pequenos resumos de todos os nossos aprendizados. Especialmente no caso de relacionamentos em que as situações sempre se repetem. Nós precisamos passar por perrengues, encontrar saídas, sentir na pele o que é ser largado ou largar alguém pra poder comentar sobre o assunto. Nós precisamos de nossas próprias experiências para poder aconselhar a melhor forma de lidar com aquilo - seja usando a mesma saída que nós usamos, caso tenha dado certo, ou uma alternativa mais eficaz. E acho que poder aconselhar alguém, por mais que a pessoa faça tudo ao contrário do que você indicou, já é uma forma de ajudar o outro e também si próprio, por que não? Assim como o nosso sistema imunológico tem seus anticorpos de memória - que registram e guardam a informação de como o organismo reagiu a determinado patógeno para reagir da mesma forma caso ele volte a aparecer - nós temos nosso inconsciente recheado de conselhos. Ainda que inconscientemente, nós nos aconselhamos o tempo todo e receber conselhos de terceiros é sempre uma espécie de abraço. Mas para isso nós precisamos sempre de novos problemas, novas perguntas, para encontrar mais memórias e mais abraços, porque, no final das contas, são as perguntas que nos movem - não as respostas.

13 comentários:

  1. Ou aquela velha máxima "se conselho fosse bom não se dava vendia-se". Que bom que ela tem uma amiga para desabafar... isso é tão raro nos dias de "redes-sociais" e na maioria das vezes os milhares de conselhos que você deu ela não seguirá mas acho que nem é isso que esta em questão ( as perguntas e as respostas mudam em um milésimo de segundo... ) Pensei que você ia falar também sobre abraços que curam muito mais do que qualquer conselho...

    Beijos e abraços...
    http://ladomilla.blogspot.com.br/

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    1. Né?
      Eu fico feliz em poder dizer que tenho pouquíssimos amigos de verdade, mas que eles são os melhores do mundo! Aquela amizade bonita, sabe? De ouvir e ser ouvida, nas horas boas e ruins...

      Obrigada pela visita!

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  2. Isso mesmo Brendha, geralmente as pessoas vão atrás de conselhos atrás de serem ouvidas, e saber que alguém se importa, ou ao menos finge se importar com a sua situação. Geralmente eu sou a "tia" dos conselhos entre as minhas amigas, sendo que geralmente eu nunca vejo elas seguindo eles, mas gostam de conversar, se sentem seguras. Isso também acontece comigo, quase nunca sigo, simplesmente gosto da sensação de alguém se importar comigo (ou amenos fingir). Beijos!

    Nova seguidora, aguardo sua visita!
    Luana Gabriely - VEP | http://voltinhasemparis.blogspot.com/

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    1. Isso é bom, né? Ouvir, falar, dar conselhos, essa relação de confiança - pelo menos pra mim - é muito gostosa.

      Vou visitar sim!
      Beijão!

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  3. Sabe que eu nunca tinha parado pra pensar assim? De que conselhos na verdade são a maneira que arrumamos para sermos ouvidos por outros. O que agora faz muuuuuuuuuuito sentido, porque parando pra pensar aqui, acho que realmente nunca segui nenhum conselho que me foi dado '-'

    Novembro Inconstante

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    1. É, eu costumava pensar que os conselhos eram o que as pessoas procuravam, mas também percebi que eu também não sou de seguir os conselhos, mas adoro quando param pra me ouvir, hahuahahua.

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  4. Já pensei nisso e concordo que as pessoas procuram outras pessoas pra pedir conselhos para serem ouvidas e verem quem se importa mesmo com elas, nós mesmas fazemos isso quando pedimos conselho né? E a pessoa ter vivenciado já algo parecido é até melhor para dar o conselho, tem mais segurança pra falar o que poderia ter feito e não fez ou que fez e deu certo. Concordo com a última imagem também.

    Bitocas!
    www.likeparadise.com.br

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    1. Sim! Eu comecei a tirar essa conclusão por mim, porque eu adoro que minhas amigas parem o que estão fazendo pra me ouvir, dar conselhos, opinarem. Sempre bom se sentir querida.

      Beijo!

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  5. Os melhores conselhos que recebi foram das pessoas mais irresolutas que conheço.

    Post muito interessante!

    Beijos

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  6. E isso faz todo o sentido. né? uhauahua

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  7. nunca tinha pensado muito no assunto. mas faz sentido. a gente só pode falar sobre aquilo que conhece. as pessoas sempre tentam das os melhores conselhos com base nas suas próprias experiências. o problema é que poucos realmente seguem. ✍ Emilie Escreve

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    1. Sim, concordo com você!
      Verdade :( Deveriamos seguir mais, haha

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