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06 junho 2014

Divagações sobre "American Psycho".


Esse texto contém spoilers!

Assisti ao filme “Psicopata Americano” ontem e ainda estou tentando digerir a história.

Como de costume, assim que terminei de assistir à obra (3 da manhã), fiquei olhando pra tela do computador com cara de boba e pensando sobre o que eu tinha acabado de ver, ruminando os detalhes e essas coisas. Depois disso, fui procurar opiniões a respeito do filme e ver com quais delas meu ponto de vista se encaixava. O fato é que todas as “resenhas” e análises que li falavam basicamente sobre a mesma coisa: a presença da crítica sobre o consumismo exacerbado e individualismo, além da ótima atuação de Bale e que DiCaprio tinha desistido do papel. E só. Isso não me bastou e as questões a respeito do filme em minha mente só faziam crescer.


Já eram quase 4 da manhã quando me peguei pensando que todos os personagens (os amigos do Patrick, o policial, exceto sua secretária) poderiam muito bem ser fruto da sua imaginação. Por que não? O cara era um psicopata, no final das contas. Poderia criar todos aqueles “amigos” a partir de pequenos fragmentos de sua própria pessoa e isso justificaria o fato de todos eles serem muito parecidos, usarem as mesmas grifes e apresentarem o cartão de “vice-presidente”. O policial, no entanto, poderia representar seu grito interno de socorro, o único fio que o segurava à sanidade que se esvaia, um resquício de ordem/lei dentro da conturbação interior que o sufocava. Porque como seria possível ele (o policial) sacar o exato CD que era o mesmo que Patrick deixara tocando enquanto matava Paul? Quanto à secretária, acredito que ela pode ter existido de verdade na obra, pois era uma personagem “diferente”. Não fazia parte daquele mundinho fútil e de competições. Li algumas críticas insinuando que ele não a matou por esse motivo, mas na cena em que ele iria cometer o homicídio, seu telefone toca repentinamente e ele fica visivelmente atordoado. Acredito que nesse momento ele “despertou” de uma espécie de transe e se deu conta de que aquilo não acabaria bem, tanto que permitiu que ela fugisse.


E os crimes que ele cometeu? Teriam sido de verdade? Pois na cena em que ele sai arrastando seu colega Paul (que acabou de levar machadadas até a morte) enrolado em um saco de dormir, o rastro de sangue o persegue por um tempo e depois simplesmente some. Misteriosamente. Teria sido um outro transe? Apenas a imaginação de protagonista realizando seus desejos mais profundos figurativamente? Aliás, ainda enquanto colocava o corpo no porta-malas de um táxi, um outro “colega de trabalho” aparece e a única pergunta que ele faz é sobre o saco de dormir. Aí entro em dúvida: a indiferença por parte dos personagens “secundários” seria a representação de egoísmo, futilidade? Ou teriam eles sido fruto da imaginação doentia de Patrick?

De forma geral, eu costumo gostar de psicopatas e caras maníacos (na ficção, que fique claro). Exemplos: estou lendo “Lolita” e Humbert Humbert roubou meu coração com a forma como ele sabe escolher perfeitamente as palavras que usar e suas descrições impecáveis. Dr. Lecter dispensa comentários. Jack, d’O Iluminado (se encaixa aqui?) é encantadoramente assustador. Mas Patrick não conseguiu me conquistar. Apesar dos rituais de beleza que me fizeram ficar hipnotizada por minutos a fio, os banhos (!!), as séries de exercícios e o seu charme, eu achei-o descontrolado por vezes e psicopatas inseguros não fazem o meu tipo.

momentos

Terminei essa "análise" com mais dúvidas do que tinha e poucas respostas, mas de forma geral filmes assim é que vale a pena serem assistidos: aquelem que explodem o seu cérebro (sdds Clube da Luta) e te deixam com ressaca cultural. 

E vocês, já assistiram? Comentem aí! 

10 comentários:

  1. Muito interessante sua critica, mas tenho alguns pontos que gostaria de mencionar. Patrick não é inseguro, ao contrario, ele deseja recuperar a rotina e o controle que qualquer pessoa "normal" tem. Há muito vi o filme, e de poucos detalhes lembro (um deles é a participação de Jared Leto), mas no que me recordo a narrativa é clara de um homem que tem problemas de dupla personalidade subjetiva e que em momentos anceia por ser nada alem de um "homem de negocio comum" e em outros tem o simples e puro desejo de sangue e morte. Outro ponto que podemos destacar na obra é a comparação que o diretor faz do instinto assassino que os psicopatas tem com o instinto "assassino" que os já citados "homens de negócios" tem com suas transações e "mortais" que os circundam. Porem a questão mais interessante (e irônica) é em si fora das telas. Christian Bale, interpreta um psicopata sádico que faz o que faz sem motivo aparente, simplesmente por ser algo que lhe agrada. 8 anos depois ele faz o papel de um vigilante que combate um psicopata sádico que faz o que faz sem motivo aparente. Mas seria ridículo comparar o psicopata metrossexual de Wall Street com o Príncipe Palhaço do Crime. Outra ironia é o próprio nome do personagem. Patrick BATEMAN (psicopata americano) - BATMAN (Trilogia Cavaleiro das Trevas). Enfim, sua visão do filme foi realmente incrível, e seria algo interessante você escrever sobre assassinos da ficção.


    J. DW.

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    1. Antes de responder seu comentário, gostaria de frisar que esse texto foi escrito logo depois que assisti ao filme, naquele ponto em que as ideias ainda não se organizaram direito na cabeça, por isso está tão afobado e pouco conclusivo. Enfim.

      Até tinha escrito no texto, mas apaguei antes de publicá-lo, sobre essa "insegurança" do Patrick. Me expressei mal. Não acredito, realmente, que seja insegurança, mas sim alguém que se enxerga doente e não quer ser. O desejo de recuperar a rotina normal, etc. Concordo. Mas continuo dizendo que esse tipo de personagem não me faz a cabeça, nesse ponto.

      Quanto à questão fora das telas, eu desconhecia, obrigada pela informação.

      Meu sonho é escrever sobre um psicopata, mas sou tão exigente nesse sentido que a ideia fica na gaveta. Quem sabe um dia.

      Obrigada pelo comentário.
      Volte sempre.

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  2. Sou tão por fora do mundo dos filmes que nunca sequer ouvi falar desse filme, mas confesso que fiquei com saudade da tensão pré-assassinatos.

    Acho que o último filme de suspense que assisti foi "Roubando Vidas". Não tenho muito estômago para essas coisas.

    Achei interessante o nome do cara ser BATEMAN (no GIF que me deixou tonto). Não é o mesmo ator que faz BATMAN atualmente? Até pensei que fosse uma resenha de BATMAN, antes de ler o texto.

    Bem, não prometo assistir, até porque ultimamente não tenho tido muita paciência para filmes, mas caso queira assistir algum de suspense, vou me lembrar deste, ok?

    Bjs ;)

    O Pierrot Mal Amado

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    1. Eu também sou, toca ai! o/ Mas tô tentando mudar isso, uahuahua.

      Sim, eu acho, mas e o Ben Affleck? Ah, definitivamente não sou entendida no assunto.

      Olha, acho meio difícil eu fazer uma resenha sobre Batman. Primeiro porque sou completamente alheia ao universo do morceguinho (alheia, digo, desligada, não acompanho, etc) e segundo porque não teria pachorra pra isso. Deixo gente mais qualificada fazê-lo. uhauahuau

      Guarde ele na lista, por favor. E assim que surgir a oportunidade, assista-o. Não vai se arrepender.

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  3. Assisti neste ano só por causa da Netflix (essa linda) e dizer que foi um dos filmes mais perturbadores que vi nos últimos tempos (junto com a regravação de Maniac ~~recomendo~~). É daquele tipo de filme que você termina e carrega por muito tempo, pelo desconforto causado. Gostei da sua analise, não tinha pensando desse jeito :) Pra mim o Patrick cometeu todos aqueles assassinatos mesmo, sendo ele meticuloso. Parece que ele matava para sentir alguma coisa, porque as cenas que mostram a sua rotina mostram um personagem extremamente frio, porém manipulador de emoções. Beijos

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    1. Eu fui pesquisar sobre o livro, Cami, e as pessoas que leram confirmaram que, sim, Pat cometeu todos os assassinatos, mas eu achei algo tão subjetivo no filme que abriu esses leques de pensamentos que eu resolvi expor no post. Acho bacana tentar extrair da obra, além dos fatos implícitos, todos os detalhes que ficam grudados nas paredes, nos cantinhos. Algo pra deixar o leitor - do blog - pensando e querendo assistir ao filme novamente só para ver se consegue perceber esses detalhes.

      Aliás, vou colocar Maniac em minha lista. Adoro filmes assim.

      Obrigada pela visita, volte sempre!

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    2. Não sabia que era baseado em um livro! Fiquei interessada em ler :D Ah, obrigada por perguntar do getget lá no blog, já add lá :) beijos

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    3. Eu também quero ler!!!
      Ok, vou olhar :)

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  4. Eu vi esse filme ano passado e, seguramente, posso dizer que que é, no mínimo, provocante e ambíguo, adoro filmes assim. Na época em que o vi também cogitei a hipótese de todos aqueles crimes serem meros frutos da imaginação perversa de Patrick Bateman , na verdade, acredito ser a possiblidade mais plausível, principalmente porque algumas mortes foram espalhafatosas demais, como o assassinato da prostituta com uma serra elétrica no meio da madrugada, todo aquele escândalo da mulher batendo nas portas dos apartamentos, ele correndo nu como um doido varrido e simplesmente ninguém escuta.
    Outro ponto que reforça essa tese é o de que, ao confessar seus crimes para um colega, o cara não acredita e debocha de Bateman, pois, conhecendo a passividade e o medo dele, tem a convicção de que Bateman seria incapaz daquelas atrocidades.
    Gosto de pensar também que os crimes foram reais e, nesse caso, seria uma crítica à impunidade dos fodões de Wall Street e de que todos ali são tão parecidos que confundiram Paul com outra pessoa no final do filme ao afirmarem que ele estava vivo, mas acho essa possibilidade improvável.
    Não li o livro, mas, por esse excelente filme, Patrick Bateman é um narcisista, metrossexual, egocêntrico ao extremo, fútil, perturbado, covarde, submisso e que, no fundo, é tão psicopata quanto nós.
    Concordo contigo quando você diz que ele é inseguro, pois usa seus crimes imaginários para fugir da realidade patética e inócua dele.

    Eu recomendo essa critica muito boa e esclarecedora do Pablo Villaça do Cinema em Cena:

    http://www.cinemaemcena.com.br/plus/modulos/filme/ver.php?cdfilme=436

    Beijos

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    1. Sim, eu também pensei nisso, sobre os crimes terem acontecido apenas na cabeça dele, como um devaneio em que ele libera seus demônios e vontades mais secretas, mas há comentários de pessoas que leram o livro afirmando que sim, ele cometeu todos os crimes, e dá pra perceber isso nitidamente. Agora me resta ler o livro e tirar essa dúvida, pretendo fazê-lo em breve, assim que conseguir o livro.

      Quanto à insegurança, me pego pensando se me expressei mal no texto. Enfim, o caso é que ele é, realmente, transtornado e todo o filme dá muito pano pra manga, muitas teses, muitas ideias que poderíamos ficar um dia inteiro conversando e ainda faltaria tempo.

      Vou ler a crítica que você indicou, obrigada pela dica!

      Beijo, volte sempre!

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