Páginas

06 julho 2014

Perfeita Assimetria


Engenheiros do Hawaii é uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos e foi impossível não lembrar de uma frase cantada por eles assim que terminei de assistir "Hysteria" (2011): "o teu maior defeito talvez seja a perfeição", retirada da música a qual faço alusão no título desse post "Perfeita Simetria" - e que vale a pena ser ouvida, diga-se de passagem.

Pra quem ainda não assistiu, o filme é baseado em fatos reais, se passa no século XIX e conta a história da invenção do vibrador - que lá nos primórdios era usado para fins medicinais. Mas a parte específica da obra que interessa pra esse texto é a relação do Dr. Mortimer Granville (interpretado lindamente pelo Hugh Dancy <3) com as filhas do Dr. Robert Dalrymple, seu patrão-futuro-sócio, Emily e Charlotte. As duas irmãs são completamente opostas: enquanto a primeira é uma bela dona de casa, educada, recatada, adora ler e pratica frenologia, a outra mantém um abrigo feat. escola para os menos favorecidos e possui um espírito revolucionário - acredita principalmente que as mulheres merecem mais do que esfregar a barriga no fogão e cuidar da família. Emily é o exemplo da perfeição (claro que ela tem defeitos, mas esconde-os muito bem), enquanto Charlotte foge totalmente ao conceito de "mulher ideal" da época - até porque ela questionava ferozmente esse conceito de "ideal". 

Com um empurrãozinho do possível futuro sogro, Mortimer pede a mão de Emily em casamento e eles chegam até a noivar. Não quero dar spoilers, mas o final é clichê e acaba que o mocinho percebe que Charlotte, apesar dos seus defeitos, seria aquela que poderia fazê-lo feliz e ele resolve abandonar o protótipo de vida perfeita, com Emily e um consultório, para se arriscar na incerteza que seria ter alguém tão volátil e espalhafatosa (num bom sentido) quanto Charlotte ao lado.

O final é lindo, eu fiquei sorrindo feito boba - Charlotte sendo Charlotte até em um pedido de casamento, enfim - mas o que realmente me fez ficar pensando foi: será que Mortimer resolveu se casar com Charlotte apesar dos defeitos dela ou por causa dos defeitos dela?

Voltando um pouquinho ao começo do filme, lembramos que Mortimer é (ou era, pelo menos) um médico que está preocupado com a saúde e o bem estar dos seus pacientes. Ele não quer só fazer o seu trabalho para ganhar dinheiro e reconhecimento. Ele é realmente apaixonado pela medicina, se interessa por pesquisas científicas - ainda que limitadas, como eram na época - e percebe que uma revolução estava prestes a acontecer, embora seus pensamentos fossem considerados extremamente visionários e fantasiosos. Quando ele começa a trabalhar com o Dr. Robert tratando a "histeria" das mulheres da alta sociedade de Londres, ele passa a ganhar seu dinheiro, hospedagem, ter a companhia de uma bela moça, tornando-se acomodado. Mas então Charlotte começa a entrar na sua vida com mais frequência do que deveria e acaba perturbando a sua paz. Para muitos, isso seria algo ruim, mas para Mortimer foi a sacudida que ele precisava para reacender seu espírito revolucionário e sair da inércia em que havia se posto.

Aos olhos da sociedade da época e do próprio pai, Charlotte era uma vergonha. Estava longe de ser uma dama. Mas Mortimer, que também era bem diferente do que a classe médica considerava um "bom médico", viu na garota alguém que trazia-lhe à tona todas as vontades mais inquietantes que ele deixara adormecer para se "encaixar". Os dois tinham pensamentos bem parecidos entre si e que iam contra o que era considerado "normal" na época. Eles eram diferentes, imperfeitos (mais que a maioria, pois ninguém é totalmente perfeito), mas no meio de tanta gente eles se encontraram e se reconheceram. Arrisco dizer que ficaram juntos por causa dos seus defeitos que, de uma forma ou de outra, obrigavam o outro a sair da sua zona de conforto para ir atrás daquilo que realmente fazia seu coração vibrar.

Nem preciso dizer que esses dois formam um casal lindo (para o qual eu torcia desde o início do filme) e que a obra vale a pena ser assistida só por isso. Embora eles tenham sido inventados pela diretora para dar um ar adocicado para a obra, eles são totalmente críveis e o resto do filme todo é muito bem elaborado (saber que foi realmente baseado em fatos reais torna-o ainda mais interessante).

Quanto à Emily, a irmã "perfeita", bem, a gente descobre que ela não é tão perfeita assim... Aliás, como diria Humberto Gessinger, tomo a liberdade de reforçar: o maior defeito talvez seja mesmo a perfeição.

20 comentários:

  1. Não que tenha a ver com o post em si, mas: eu vi Medianeras depois de você ter falado sobre aqui no blog. E cara. Que. Filme. Bom.
    Só isso.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sério????? Ahh, que legal :D
      Fico feliz que tenha gostado.

      Excluir
  2. Oi! Ainda não vi esse filme, mas fiquei muito interessada não apenas pelo assunto, como também pela construção dos personagens. É realmente difícil saber se a gente se apaixona pelas "perfeições" ou "imperfeições", acho que é por aquilo que nos dá ânimo de explorar novas possibilidades ou quem nos deixa confortáveis do jeito que somos. Ótimo texto! :P

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É muito bacana mesmo, sério! Além de você ter um contato direto com a sociedade do século XIX, dá pra ter uma noção de como foi assumir que as mulheres tinham suas necessidades sexuais e que poderiam satisfazê-las com um aparelho elétrico.

      Obrigada pela visita ;)

      Excluir
  3. Tem muito essa coisa da teoria de que o amor é quando não conseguimos encontrar a perfeição em nós mesmos - e procuramos isso em outras pessoas. Defeitos se aceitam e podem ser a perfeição para alguém que já tenha uma vida "regrada", digamos assim. Mas perfeição também é utopia, não sei muito bem o que pensar.
    Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, esse assunto dá muita coisa pra pensar né?
      Beijo!

      Excluir
  4. Adoro esse filme, faz parte da minha listinha de favoritos e, tenho que dizer, adorei a forma como você escreveu sobre ele, até meu vontade de largar tudo e ir assistir de novo!! Parabéns viu?

    serenataacapella.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ai, eu me apaixonei por ele <3
      Fico feliz em ter causado isso, haha.
      Beijo!

      Excluir
  5. Nunca assisti, mas adorei as referências que você fez ás musicas do Engenheiros. Não costumo assistir a filmes românticos, mas esse me parece um romance inteligente. Vou assistir sim, e ótimo post e cabeçalho criativo!
    xx, likearocklikearoll.blogspot.com

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Dê uma chance pra ele, é bem legal, eu garanto!
      AH, bem no dia que você comenta eu troco de cabeçalho, haha!
      Obrigada pela visita!

      Excluir
  6. Por favor, mantenha esse nome. Amei demais, Brendha! <3 E seus layouts minimalistas fazem meu coração suspirar. Amo simplicidade.

    Quanto ao filme, nunca assisti e agora tô morrendo de vontade, haha. Adoro esses romances de época e, mesmo que tenha sido uma parte idealizada, saber que foi baseado em fatos reais deixa a coisa toda mais interessante.
    Se apaixonar pelos defeitos de uma pessoa é uma arte, principalmente pra mim que sou egocêntrica, mas acredito que quando isso acontece é porque ali tem amor mesmo. Às vezes nossos defeitos acabam achando o par também e, olha, deve ser uma coisa muito boa de se viver porque você acha no outro algo que dá certo pra você e mais ninguém. Né romântico? ♥

    E em relação a Engenheiros do Hawaii: não sou fã, mas tudo que escuto acho genial. <3 Gessinger é o cara.

    Beijos, B!
    :]

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Larie!
      Eu costumava pegar layouts prontos e adaptar pro meu estilo, mas sempre acabava enjoando na primeira semana. Percebi que meu estilo era mesmo esse, minimalista, simples, clean, pois assim eu não enjoo tão rápido. Esse que estava antes, por exemplo, foi feito em 5 minutos, escolhi umas cores aleatórias e estava aqui desde março, uma vitória pra mim - que não conseguia passar de 2 semanas com o mesmo lay. Como eu gostei desse, troquei o cabeçalho e as fontes, mas mantive as cores e espero não enjoar. Fico feliz que você goste e que te inspire, o seu também ficou muito lindo e eu amei!

      Ai, que lindo isso! Muito romântico!!! Escreva um conto ou uma crônica romântica, você leva jeito, ok?

      Ele é o cara, mesmo. haha

      Beijão!

      Excluir
  7. Nossa, sou a leitora número 100! Isso é tão emocionante...

    Putz, agora fiquei me sentindo como uma criança de seis anos que corre para pegar o primeiro lugar da fila só para dar a mão para a professora. Ou seja: estou me sentindo meio boba e acho seriamente que você devia ignorar estes dois primeiros parágrafos, hahaha'

    As quase crises existenciais que surgem após um longa-metragem... sempre tão loucas! A última que tive foi depois de ter assistido "About Time", que me fez ficar pensando sobre o tempo e também rendeu um texto de minha parte. Mas filosofias envolvendo a perfeição... hmm, acho que faz tempo que não tenho uma. Quer dizer, não depois de ter assistido um filme, mas de qualquer forma seu post me fez refletir bastante. Vai ver que as imperfeições surgem da vontade de ser perfeito, e a perfeição nada mais é que um conjunto disfarçado de imperfeições. Confuso, eu seu. Mas o que é plenamente certo nessa vida?

    Post perfeito. Não, post imperfeito. Não, péra... Estou decidindo qual elogio cabe melhor aqui.

    Beijos ♥ Jeito Único

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ontem mesmo eu estava olhando pro "99" ali nos seguidores e me perguntava quem seria o 100. E é você, que máximo! hahaha Vem cá, me dá a mão, fiquei feliz demais que você além de seguir tenha se manifestado! <3

      Sempre acreditei que os melhores filmes são aqueles que fazem a gente pensar e mudam um pouquinho a nossa vida e nossos pensamentos, e nessa de fazer valer a pena cada filme assistido, eu sempre tento refletir sobre, algumas reflexões eu trago pro blog daí :) Nunca assisti "About Time", mas vou pesquisar sobre!

      "Vai ver que as imperfeições surgem da vontade de ser perfeito, e a perfeição nada mais é que um conjunto disfarçado de imperfeições." há, que frase perfeita - ou imperfeita, sei lá, hahaha. Adorei!

      Obrigada pela visita, volte sempre! <3

      Excluir
  8. Tão bem descrito que senti uma enorme vontade de assisti-lo. Considerando que romances fazem parte do meu cardápio, não será esforço algum assistir ao filme. Obrigada pela recomendação.
    Beijos, chuchu ♥
    Simplicidade Doce

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. AH, fico feliz demais com isso! Assista sim, vale à pena.
      Beijo!!

      Excluir
  9. Não sei se os dois eram perfeitos um para o outro, mas que tinham algo em comum. Ele queria fazer algo útil de verdade, no final das contas.

    ResponderExcluir
  10. Sim!!!
    E eu simplesmente amei o final do filme. <3

    ResponderExcluir