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14 junho 2014

Her


Vocês já devem estar carecas de saber que "Ela" fala sobre o "amor" entre Theodore, um humano, e Samantha, um Sistema Operacional. Aliás, muitos de vocês, assim como eu, deviam estar esperando do filme só uma ideia de como esse romance poderia ou não se desenrolar, certo? Por um lado, é até legal assistir ao filme sem muitas expectativas, mas me sinto no dever de informar que ele não é só isso. A obra nos trás muitos outros questionamentos, informações, contrastes e questões filosóficas que nos fazem parar para reavaliar nossas próprias vidas e as atitudes que estamos tomamos. Quer saber como? Vou tentar explicar.

A atmosfera do filme é basicamente uma Los Angeles de um futuro próximo e podemos reparar algumas diferenças na arquitetura, nas roupas, mas é basicamente tudo muito parecido com o que temos hoje em dia. Talvez a diferença mais gritante seja que as pessoas fazem tudo, eu disse absolutamente tudo, virtualmente, via comandos de voz e gestos, mas isso nós sabemos que não é nenhum absurdo tecnológico. Visto que hoje em dia as pessoas passam os dias conectadas e as relações interpessoais estão ficando cada vez mais obsoletas, então o filme não está falando de uma realidade muito distante da que estamos acostumados. O caso é que na tela fica visível o individualismo, sendo que os humanos estão preferindo se relacionar somente com máquinas, que correspondem exatamente àquilo que eles desejam, do que com outros humanos que são imperfeitos e possuem características desagradáveis. A estagnação por parte dos humanos, a preguiça de se relacionar e evoluir através de experiências adversas ficam visíveis em alguns traços do protagonista que tratarei mais adiante.

Ironicamente, levando em conta as informações supracitadas, Theo é escritor e trabalha escrevendo cartas pessoais que reproduzem até a caligrafia do remetente. Já nos minutos iniciais do filme ele aparece recitando uma carta para o seu computador que tem a tarefa de transformar aquelas palavras ditas em manuscritas, como se fosse realmente uma carta. O filme prevê que no futuro as pessoas estarão tão ocupadas com a tecnologia, tão conectadas, que não sobrará mais tempo para parar e escrever algumas palavras para alguém querido. E já não é mais ou menos isso que está acontecendo?

Agora aprofundando-nos um pouco na vida e nos sentimentos de Theodore, nos é informado que ele se divorciou há mais de um ano e ainda não assinou os papéis do divórcio - ele simplesmente não consegue lidar com o fim. Ele e Catherine foram casados por algum tempo e cresceram juntos numa época em que o "contato" era realmente utilizado. Alguns flashbacks dos dois inundam a tela de carinho, amor e... toques, carícias. Um contraste gigantesco com o resto do filme que se passa no futuro com todo aquele ar tecnológico.

"Nós exercíamos grande influência sobre o outro."
Se sentindo solitário, Theodore vê num Sistema Operativo de Inteligência Artificial - criado para desenvolver uma consciência e se aperfeiçoar para suprir todas as necessidades do usuário - uma pontinha de esperança. Ele busca organizar sua vida e acaba comprando seu OS. Num gesto aparentemente simples, ele escolhe que a voz do Sistema deveria ser feminina e a partir disso sua vida toma um rumo completamente inusitado.

Ele e Samantha - seu OS que escolheu o próprio nome a partir da leitura de um livro de nomes para bebês - começam a conversar e ela logo torna-se tudo o que ele procurava. Ela o incentiva, arruma sua bagunça, lê seus e-mails, é engraçada, compreensiva, enfim, é um poço de qualidades, exceto pelo fato de não ter um corpo, mas isso não se torna problema. Os dois começam, então, a se relacionar e se pegam apaixonados um pelo outro. A grande dúvida que o filme joga no nosso colo é, portanto, se podemos acreditar que aquele é um amor real ou não. Seria Samantha apenas uma voz programada ou ela poderia desenvolver a capacidade de amar?

Em um almoço com sua ex-esposa, Theodore conta que está namorando seu OS e ela fica pasma, jogando em sua cara que ele nunca estivera realmente pronto para um relacionamento verdadeiro. Esse é o grande tapa na cara do espectador (e do personagem), que até então via-se envolvido no romance atípico. A partir disso, aos poucos, as dificuldades vão aparecendo e Theo, que se achava especial por ter alguém "ao seu lado", fazendo tudo por ele, decepciona-se ao perceber que Samantha estava conectada com muitas outras pessoas e que tinha se envolvido com outros sistemas também. Esse baque desperta no nosso protagonista uma série de dúvidas que você pode ter o gostinho de apreciar se assistir à obra haha.

Bom, sem querer me estender, vocês já repararam que o filme deixa muitas questões a serem respondidas por quem assiste, dá muito o que pensar e também apresenta uma pontinha do que podemos encontrar no futuro - se as coisas continuarem evoluindo como estão. É como um abrir de olhos para o rumo que estamos tomando e reforça a importância das relações entre as pessoas. Não vou contar o final do filme, mas se você já assistiu percebe que todo o envolvimento entre Theo e Samantha tem um desenrolar um pouco previsível em alguns pontos e deixa visível a complexidade dessa relação - sendo os seres humanos limitados e os Sistemas Operacionais inimaginavelmente vastos.

Antes de finalizar o post, gostaria de comentar sobre a fotografia do filme que me deixou encantada, a trilha sonora incrível e as roupas do Theodore, assim como seus óculos, que ficaram perfeitos e ajudaram a construir a personalidade do personagem. Também vou deixar um vídeo pra vocês assistirem e sentirem um gostinho do que os espera. Espero que gostem:


E vocês, que já assistiram ao filme, quais foram suas impressões?


11 comentários:

  1. Desde o lançamento do filme to jurando que vou ver e agora que li seu post me toquei de que não vi ainda, peso na consciência? Sim, claro, óbvio.
    Sabe que seu post me animou mais ainda pra assistir? A maioria das pessoas que me davam opiniões sobre o filme o classificavam como cult e não passava disso, o que ultimamente me irrita muito (as pessoas pegaram essa mania de classificar as coisas em cult ou não, só parem.)
    Obrigada por escrever sobre ele, adorei!

    (Obs: li seu comentário no meu blog e ai me abraaaaaaaaaaaça. Eu deixo sim você colocar meu texto nas mochilas das pessoas.)

    Novembro Inconstante

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    1. Eu também estava assim, louca pra ver o filme, tapando os ouvidos pros spoilers, mas nunca surgia a oportunidade de assistir. Então, faça que nem eu, assista logo! UAHUAHUA

      Ah, fico feliz. Eu gostei tanto do filme, sério! Também fiquei menosprezando um pouco por causa de alguns comentários, mas ó, é bem mais do que tudo isso ok? Ah, também odeio isso!

      UHUHAUHAU Ok, vou imprimir e começar amanhã mesmo!
      Beijo!

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  2. Uau, que filme maneiro!
    Parece ser bem legal e diferente dos clichês que sempre vemos por ai. (Mas como não amar os filmes clichês?? Principalmente os de romance. Diário de uma paixão, Um amor para recordar, Amor além da vida...)
    Ah, queria dizer que gostei bastante aqui do seu blog, tão lindo e clean <3333 rss

    beijos, www.divasblog.com.br <3

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    1. É bem legal mesmo, eu super recomendo!
      Pois é, como não amar os clichês? Sou eterna defensora deles, embora tenha fases que eu não suporte passar perto de um. UHAHAUHAU

      Obrigada!

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  3. Eu gostei bastante do filme, amei as cores, a fotografia, tudo foi muito bem pensado. Mas, de alguma forma, eu fiquei sentindo falta de algo, pra ser um filme perfeito, sabe? hehe


    Beijos
    Sorteio de um calçado da Passarela
    Brilho de Aluguel

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    1. Eu fiquei encantada com esses detalhes também. Ah, entendo. Já eu, consegui me sentir plena (apesar das dúvidas que ficaram rondando minha cabeça depois de assistir).

      Obrigada pela visita. Beijo!

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  4. Agradou-me a maneira como você retratou esse filme formidável.

    Acredito que seja um filme extremamente bem-sucedido em sua proposta de retratar a tendência da virtualização dos sentimentos, além de nos convidar a refletir sobre a nossa própria condição humana, o que torna nossos sentimentos reais? e se o amor verdadeiro pudesse ser autêntico, mesmo sendo apenas uma voz, palavras ou imagens? Realmente precisamos de contato humano para nos sentirmos amados? e outras tantas perguntas que brilhantemente foram levantadas pela obra.

    Merecidamente levou o Oscar de Melhor Roteiro Original esse ano, mas foi pouco.

    Estou gostando dos filmes que você está escolhendo para analisar, excelente gosto rsrs

    http://leigopoeta.blogspot.com.br/

    Beijos




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    1. Verdade, concordo com você. São questões bem interessantes, se formos parar pra pensar, e o filme nos deixa com essa inquietação, esses pensamentos. Adorei como o assunto foi bem explorado no filme e além ele, nessas perguntas que ficamos nos fazendo depois que passaram os créditos.

      Estou tentando trabalhar meu lado "crítico", estou engatinhando ainda nesse sentido, mas um dia eu chego lá.

      Beijo!

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    2. Continue desenvolvendo esse seu "lado" crítico, pois é muito promissor. Vou começar a fazer o mesmo no meu blog, vou arriscar umas resenhas também rsrs Beijos

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  5. Gostei do que li, parece ser bom mesmo :) vou olhar!

    Beijos
    Dani
    www.danigarlet.com.br

    Ps: to andando pela web procurando por blogs e links legais e cai aqui :))
    Gostei :)

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    1. Não assistiu ainda? Corre pra ver e depois me conta o que achou, se concorda comigo e tal!

      Que bom que gostou, volte sempre :D

      Beijo!

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