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15 fevereiro 2015

Amar seria fácil, se não fossemos pessoas

cena do filme: a felicidade não se compra
Ontem eu assisti "A Felicidade Não se Compra" pela primeira vez e não poderia fazer outra coisa se não colocá-lo naquele cantinho do meu coração reservado pros filmes-mais-especiais-da-vida. Eu até poderia falar sobre a obra como um todo, como eu geralmente faço, mas quando tento explicar o quão maravilhoso é esse filme eu simplesmente não consigo me ater às características técnicas, nem fugir do clichê: confiem em mim, apenas assistam. O caso é que logo nos minutos inicias eu já fui pega pelo filme e não tinha mais jeito. Percebi que a obra seria uma daquelas que me ganham assim, despretensiosamente, em uma única cena... E apesar de ter amado a mensagem sobre amizade que o filme traz, eu refleti sobre outras coisas e é sobre elas que vim falar com vocês.

Imaginem só: o nosso protagonista, George Bailey, é um menino lá pelos seus 12 anos, e está brincando de escorregar no gelo formado sobre um lago com seu irmão mais novo, Harry, e mais uns amigos. Eles brincam, se divertem, até que Harry acaba ultrapassando a área ~segura~ e atinge uma camada mais fina de gelo que invariavelmente cede com seu peso. Sem saber nadar, grita por socorro e George logo corre pra ajudá-lo. Ele consegue salvar o irmão, mas acaba ficando surdo de um ouvido, pois estava muito frio, etc. Temos aqui o primeiro ato de bondade do George, que é sucedido de vários outros (que vocês precisam conhecer, então assistam ao filme logo, é sério), mas ainda não é sobre isso que eu quero falar, especificamente.

Lembram que eu disse que ele ficou surdo de um ouvido? Pois bem... Alguns dias depois, recuperado da gripe ou whatever que ele teve, George volta ao trabalho que tinha depois da escola: ajudante em uma farmácia/sorveteria (isso não faz sentido, mas ok). Logo que chega ao local, se depara com Mary, sua amiga, aparentemente da mesma idade que ele, esperando sentada à frente do balcão. Ela pede um sorvete SEM COCO e ele serve o sabor que ela pediu, fazendo uma piadinha sobre ela não gostar de coco - todo fofo, muito amor. Quando ele se abaixa pra pegar coco embaixo do balcão (sim, ele vai colocar coco no sorvete dela, porque ele leu na revista National Geographic que o coco vem de outro país e ele, como jovem-futuro-explorador, acha aquilo o máximo), pelo lado de fora Mary, toda tímida, se aproxima de George e sussurra: "é desse ouvido que você é surdo?" Sem resposta, ela continua: "Então... Eu te amo, George, eu vou te amar até o fim da minha vida." E ele levanta a cabeça logo em seguida, entregando o sorvete à menina, que sorri. 

Agora imaginem a minha cara ao ver essa cena. Tá certo que eu me derreto por qualquer coisa, mas a delicadeza, a fofura, a inocência e o amor não-declarado deles (porque até então tinham 12 anos, enfim)... Como não ficar encarando a tela por uns segundos, pensando em como aquele momento é representativo? Como não refletir sobre uma porrada de coisa a partir desse pequeno ato? Me expliquem, porque pra mim isso foi a reação mais que óbvia.

Eu, particularmente, nunca tive certeza do que é o amor - digo, o amor romântico, entre duas pessoas. Já li muito a respeito do assunto, já assisti a vários filmes que caracterizavam o amor da sua própria maneira, já achei que senti (ou senti, verdadeiramente?) o amor... Mas nunca tive plena certeza. Já escrevi milhões de textos tentando explicar - pra mim mesma - o que é esse sentimento, mas ainda assim parecia impossível ter certeza de qualquer coisa. Porque é tudo tão particular. É tudo tão inconstante quando estamos falando de relacionamentos entre pessoas... Porque estas são, em sua essência, complexas... Têm suas próprias convicções, suas experiências, memórias e tudo isso faz com que elas enxerguem tudo à sua própria maneira. O amor é, portanto, em termos práticos e generalizados, o resultado da junção de dois mundos completamente diferentes, personalidades diferentes, enfim, e isso pra mim soa tão incerto que eu nunca soube descrever, sentir...

Fiquei pensando nisso tudo durante o resto do filme inteiro e quando "The End" apareceu na tela eu tive, pela primeira vez em muito tempo, uma certeza: 

A menina diz que odeia coco só para ver o menino alegar, todo entusiasmado, com toda a sabedoria que seus 12 anos lhe permitem ter, que é impossível odiar coco, porque ele vem de outro país e isso basta para amá-lo... Isso é amor. Assim como sussurrar no silêncio que o ama e sempre amará, até o fim da vida (e cumprir a promessa, diga-se de passagem), também é amor. 

Amor é deixar o orgulho de lado e roubar um beijo no meio de um desentendimento, soltar um "eu te amo" inesperado e receber outro em resposta. Amor é encontro, desencontro, dar voltas, mais voltas, e no fim acabar voltando pra mesma pessoa. É casar, ter filhos, problemas, dívidas, incertezas, noites mal dormidas, vontade de morrer, mas viver, sabendo que seria impossível viver sem aquela pessoa, assim como pra ela a vida perderia a graça sem a sua presença. Amor é errar muito pra poder acertar um pouco, é ceder pra poder receber, amar alguém é abrir mão, deixar ir, pra ver se volta... Eu poderia ficar dando os mais variados exemplos do que pode ser o amor, mas vocês já entenderam, né?

Eu, que sempre tive medo do amor porque temo tudo aquilo que não entendo por completo, percebi que amar também é sentir medo, e não entender tudo por completo. Talvez a lição mais importante que fica é que um "eu te amo" é uma frase que isolada não significada nada, assim como dependendo do contexto ela pode tomar uma forma totalmente diferente, se anunciando no silêncio, que diz tudo o que precisa ser dito. 

Aproveitando os tons de cinza que estão super em alta nesses últimos tempos, posso finalizar o texto dizendo que, de forma geral, amor é o oposto de tudo aquilo que eles tentam romantizar naquela história mal escrita. Se você quer ver um romance de verdade, amor pra valer, não perca seu tempo nem gaste seu dinheiro indo ao cinema ver uma relação auto-destrutiva, problemática, possessiva e doentia... Aproveite seu tempo assistindo, por exemplo, os clássicos: Casablanca, E o Vento Levou e "A Felicidade Não se Compra" também, é óbvio. E depois venham me falar de amor.

Um comentário:

  1. Amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo amo (... infinito) filme antigos e/ou clássicos, mas nunca assisti Felicidade não se compra. Só pelo seu post já tenho certeza absoluta que vou amar (e também porque a gente tende a pensar igual em muitas coisas, né?), então vou aceitar a dica e assistir logo (hoje?).

    Agora, o ponto principal: o amor. Acho que não chegamos nesse tema nos nossos bate papos (AINDA), mas eu sou uma pessoa MUITO MUITO MUITO emocional. Eu me atiro, me deixo levar pelos sentimentos sem pensar, mergulho sem testar se dá pé. É uma merda (pode usar essas palavras aqui?) porque eu quebro muito a cara, mas acho que se eu pudesse escolher eu escolheria deixar como está. Mesmo que doa, e dói pra cacete.

    Enfim, meu ponto é que eu não sei definir amor, e acho que não quero tentar. Amor engloba sim tudo o que você falou. Mas é (pra mim), acima de tudo, um sentimento, e como tal tá além de qualquer racionalização. E eu tento não pensar muito sobre isso porque eu acho que racionalizar demais mata o sentimento (ou faz a gente se convencer que não está sentindo aquilo que está sentindo).

    Isso aqui virou um testamento, sorry! Só tava passando os olhos nos textos que perdi e fiquei com vontade de comentar tudo. Sou dessas.

    Beijos.

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